Algum tempo atrás, uma igreja da cidade onde vivo montou uma
peça teatral interativa chamada “A Casa do Julgamento”. Não fui assistir, mas
sei que foi um grande sucesso entre o público evangélico e acredito que tenha
tido grande valor evangelístico. Hoje, três ou quatro anos depois daquele
evento, o nome “A Casa do Julgamento” ainda ecoa em minha mente – mas por
outros motivos.
Nestes (poucos) anos de igreja que tenho, pude ver muitas
pessoas abandonando igrejas com o argumento de que não aguentavam ser julgadas
pelos outros. Presenciei homossexuais tentando começar uma caminhada de fé
sendo forçados a pegar outras estradas por causa dos olhares julgadores de
muitos. Vi dependentes químicos buscando auxílio espiritual para escapar de
seus vícios sendo ridicularizados pelos bastiões da moral e dos bons costumes. Testemunhei,
com tristeza, mestres da lei transformando a casa de Deus em um tribunal, em casa
de julgamento, um lugar onde os imperfeitos são julgados e condenados pelos
puros e santos.
Sempre que presencio uma situação deste tipo, lembro-me das
palavras de meu primo Arthur, conhecedor da Bíblia como poucos. “É interessante
notar que muitas pessoas, à medida que têm mais tempo de igreja, se tornam mais
intolerantes às diferenças”. Vejo homens e mulheres que deveriam ser ícones dos
valores cristãos sendo reproduções modernas do irmão mais velho do filho
pródigo (poupe-me de explicar esse exemplo melhor e leia a Bíblia). Gente que
deveria acolher, espanta. Gente que deveria ajudar, julga.
Gente santa que transforma igreja em tribunal |
Lembro-me das palavras do apóstolo Tiago: “quem você pensa
que é para julgar os outros?”. Jesus, o Cristo, andava com os pecadores.
Almoçava e jantava com os esquecidos, aqueles que ninguém chama para um café ou
para assistir ao jogo de domingo. Apesar de não compactuar com o erro de
ninguém e mudar a vida daqueles que assim desejavam, Jesus não apontava o dedo
para eles em atitude acusatória. Pelo contrário. Ao presenciar um julgamento
público de uma mulher adúltera, ele apenas diz: “quem não tem telhado de vidro
que atire a primeira pedra”. Os juízes vão embora um após o outro, e Cristo
fica a sós com a mulher. Conclui a conversa dizendo: “nem eu te julgo, só não
pise na bola novamente”.
Parece que a igreja de Jesus esqueceu quem é o juiz, o justo
juiz. Esqueceu quem tem o poder para perdoar e salvar e tomou para si a
responsabilidade de separar santos e pecadores, puros e imundos. E neste
processo, muitos que poderiam ter caminhadas longas ficam no meio do caminho,
jogados no acostamento sem ninguém que lhes dê atenção, condenados a viver sob
os olhares acusadores daqueles que julgam na esperança de ocultar as próprias
falhas.
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