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4 de janeiro de 2013

Indiferença


Tempos atrás, conversando com o pastor de minha igreja, debatemos um assunto que faz minha cabeça entrar em curto: o papel da igreja, do evangelho e do próprio pastor na sociedade contemporânea. Em um mundo onde as crises existenciais já não são as mesmas, como pode nosso discurso permanecer o mesmo? Em uma sociedade que cobra cada vez mais um papel prático da igreja, como podemos continuar com o mesmo discurso?

Fabrício Cunha, pastor da Comunidade Batista Vida Nova, disse certa vez que não é possível que se continue discutindo as mesmas coisas de vinte ou trinta anos atrás no mundo hipermoderno em que vivemos. Concordo com ele. Enquanto tem gente morando na rua e passando fome, a gente discute se pode ou não ouvir “música do mundo”. Enquanto tem jovens afundados na cocaína e no crack, a gente bate boca procurando abordagens bíblicas para debater piercing e tatuagem. Enquanto garotas de 13 ou 14 anos engravidam e morrem fazendo abortos, a gente reclama se o jovem usa bermuda para ir ao culto.

A sociedade contemporânea não aceita mais uma igreja omissa. Acho lindas essas jornadas evangelísticas, em que igrejas se mobilizam para fazer os famosos “impactos”, mas não cabe mais no nosso contexto apenas a pregação do evangelho. Para o morador de rua, não cabe mais um “Deus te abençoe” se junto com a bênção não vier um prato de comida e um cobertor quentinho. Para o jovem viciado em drogas, para o pai de família alcoólatra, para a garota que vive a fazer abortos, não é possível acreditar que dizer alguns versículos aleatórios vai mudar a vida dessas pessoas.

Gente morrendo e a gente debatendo o sexo dos anjos
O questionamento vai além: o que significa ser cristão em um país com uma parcela tão grande de pobres e miseráveis? Será que o cristianismo que Deus espera do seu povo é aquele em que nos fechamos dentro de nossos confortáveis templos, celebramos nossos carros novos, nossas promoções de trabalho, nossas viagens para o exterior, e o mundo lá fora que se exploda? Quem diz ter a Bíblia como regra de vida deveria conhecê-la profundamente. Se todo mundo que se chama “cristão” soubesse um pouco do livro que carrega debaixo do braço todo domingo, veria que Deus sempre ordenou que seu povo se importasse com os pobres, com os excluídos, com os órfãos, com as viúvas. O profeta Amós chama as mulheres dos ricaços esbanjadores de “vacas”, porque não se importavam com ninguém.

Enquanto nos preocupamos com questões menores, o mundo vai de mal a pior. Enquanto discutimos coisas que não interessam mais a ninguém (a não ser para os legalistas da igreja, que insistem em dizer o que você pode ou não ouvir, ler, vestir, onde ir), tem gente morrendo. E sim, nós poderíamos fazer muito mais. Muito mais.  

1 de janeiro de 2013

Resoluções



Sempre chego ao último dia de cada ano com certo frio na barriga, pensando no que o ano seguinte reserva. Tenho também o hábito de fazer as famosas resoluções de ano novo, bolando planos que provavelmente não vou conseguir cumprir (mas gosto de me enganar, acreditando que vou fazer tudo o que penso). Este ano não está sendo diferente. Chego a este 31 de dezembro cheio de esperança para 2013, esperança de que o ano que se aproxima seja de alguma maneira melhor.

No entanto, fiz resoluções diferentes das dos anos anteriores. Sempre planejava coisas do tipo “emagrecer”, “estudar mais”, “tomar menos refrigerante”. Para 2013, tenho outros planos. O primeiro passo: sorrir mais. Não sou conhecido, nem entre meus amigos mais chegados, por ser a mais simpática das criaturas. Aliás, a expressão fechada talvez seja minha marca registrada. No ano que chega, quero mudar isso. Quero rir e sorrir mais, me alegrar mais, celebrar mais. Que 2013 seja um ano mais feliz, mas mesmo que não seja, vou tentar ser mais alegre.

Quero ser menos crítico. Outra característica forte que tenho é a de criticar muita coisa. Pessoas, situações, comida, até a comida do restaurante, pouca coisa escapa do meu parecer de especialista em tudo. Durante este ano, percebi (e já devia ter percebido antes, mas acho que o processo de amadurecer tem dessas coisas) como a crítica pode machucar alguém. E resolvi que não quero ser o causador de lágrimas, não quero que ninguém desista de nada por causa de uma crítica minha. Que em 2013, meus lábios possam ser rápidos em elogiar e lentos, muito lentos em criticar.


Também quero abraçar (e ser abraçado) com mais frequência. Há algo de terapêutico e, arrisco, até sagrado num abraço. Para alguns, pode ser apenas um simples enrolar de braços, um contato meramente físico. Para mim, porém, o abraço é um contato profundo, algo que pode de fato mudar o dia de alguém. Que 2013 seja um ano recheado de abraços.

Para não me alongar muito, concluo com uma resolução especialmente difícil para mim: fazer mais amigos. Tenho bons amigos, e graças a Deus não são poucos. Mas minha timidez me impede de me aproximar de muita gente, de ouvir novas histórias, de distribuir mais sorrisos e mais abraços. Por isso, quero que 2013 seja um ano especial para as amizades. Que eu possa ser ainda mais amigo daqueles a quem já chamo de amigos, e que possa adicionar novas pessoas a esta lista.

E a você, que teve paciência de ler mais um texto sobre o ano novo, desejo que 2013 seja o melhor ano de sua vida. Que você mude e não espere a mudança vir de fora, dos astros, do calendário, do mundo.