Pages

13 de maio de 2014

Coração de pedra

Acabo de chegar do sepultamento de mais um jovem. Desde o fim do ano passado, já se foram três aqui da nossa igreja. Um deles era mais do que um amigo, era um irmão. Hoje assisti a interrupção brusca e precoce de mais uma história. Um jovem dentista de 29 anos, de sorriso fácil e de muitos amigos, perdeu a vida na estrada em um acidente. 

Como pastor de juventude, faço questão de participar de momentos como esse. Quem me conhece melhor sabe que nunca fiz as pazes com a morte – e acho que nunca farei –, mas ainda assim entendo que preciso estar ali, junto dos amigos e familiares. Preciso oferecer um abraço sincero e um pouco de meu tempo para aqueles que sofrem. Entendo que, como pastor e como parte do corpo de Cristo, preciso orar pela jovem viúva que começou mais uma semana de trabalho recebendo a notícia de que havia perdido o único amor de sua vida. Como pastor e parte do corpo de Cristo, preciso chorar com os amigos que perderam um colega de futebol, um parceiro de caminhadas, um confidente para as horas difíceis.

Um dia, poucas semanas após minha consagração pastoral, um colega mais experiente me disse que “com o tempo a gente se acostuma” com a morte. Com o tempo, a gente se acostuma a ver o sofrimento dos outros e a não sentir nada. Com o tempo, a gente se acostuma a olhar para um caixão e não ver uma pessoa, uma história, uma vida, mas só um pedaço de carne dentro de uma caixa de madeira. Confesso, aquilo me feriu. Não quero me acostumar! Não quero ter um coração de pedra! No dia em que eu parar de sentir a dor do outro, terei sufocado totalmente o amor e a compaixão que Cristo coloca no coração de seu povo.

Peço a Deus que preserve a vida de nossos jovens e adolescentes, para que nenhuma família precise passar por isso. Mas a vida tem disso e fatalidades acontecem. Quando acontecerem, espero que as pessoas possam encontrar em mim um amigo, um companheiro de choro, de oração e de caminhada. Que na hora do luto, o amor e a compaixão me movam em direção à ação solidária, e não à frieza. Amém. 

Um comentário:

  1. Quando o ser humano deixa de se sensibilizar com a dor do outro, deixa de "ser" humano.
    Louvo a Deus por sua vida Edu. Meu filho é pastoreado por alguém que escolheu ser sensível a dor do outro.
    Que Deus possa continuar usando sua vida como instrumento de consolo e esperança em momentos de perda.

    ResponderExcluir