Quando criança, ficava
pensando como seria legal ter superpoderes. Imaginava como seria incrível se eu
pudesse congelar tudo ao meu redor como o Homem de Gelo. Fazia elaborados
planos de como usar o anel do Lanterna Verde. Dava asas à imaginação tentando
encontrar uma maneira de ser forte como o Colossus, mas ainda assim ser uma
pessoa de bem (difícil, porque iria querer resolver tudo na brutalidade). Mas o
poder que mais me interessava era o da invisibilidade. A ideia de poder andar
por aí sem ser percebido me deixava encantado.
Nos quadrinhos e nos desenhos,
a invisibilidade é uma vantagem enorme. Em Caverna do Dragão, por exemplo,
Sheila possuía uma capa que a deixava invisível. Em situações de perigo, ela
conseguia fugir com facilidade. Quando precisava roubar alguma coisa, era só
colocar o capuz e pronto. Eu desejava a invisibilidade para pegar chocolates do
mercado sem que ninguém me visse, confesso.
Mas o homem invisível de H. G.
Wells mostra que ser invisível não é lá tão vantajoso. Antes um brilhante
cientista, Griffin acaba por ficar louco. A reflexão levantada por Wells vai
além da ética ou da moral; acima de tudo, nos leva a refletir sobre a solidão e
sobre o abandono (bom, essa é a minha interpretação). Ser invisível pode ser
vantajoso em algumas situações específicas. Na verdade, o que desperta a
imaginação na invisibilidade é a ideia de poder utiliza-la quando bem entender.
Mas e quando se é invisível, em todo
o tempo?
Já me senti invisível muitas
vezes. Até hoje, vez ou outra me bate a sensação de que não tem ninguém me
vendo. E posso dizer que isso é terrível. A sensação de não ser notado é cruel
porque mexe com a confiança da gente e dá força àquela voz interior que diz “você
não é bom o suficiente”. Sentir-se irrelevante, parte do ambiente, é pior do
que ser odiado. Quem é detestado pelo menos desperta alguma reação. O que não é
visto simplesmente é ignorado.
Certa vez um amigo – que hoje
descansa na glória de Deus – me disse que, ao me conhecer, me achava tão relevante
quanto o sofá da casa de meus tios, lugar que ele frequentava. Para ele, antes
de sermos amigos, eu era comparável a um móvel. Apesar de levar aquilo como
brincadeira, isso nunca saiu de minha mente.
Como alguém que já passou (e
ainda passa) por esse sentimento de invisibilidade, tenho me comprometido a não
permitir que ninguém mais passe por isso. Assumi um compromisso particular de
perceber as pessoas que me cercam. Decidi que vou não só olhar, mas ver quem
está ao meu redor. Que Deus nunca me permita fazer com que alguém se sinta
invisível perto de mim.