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15 de junho de 2012

Infinito Particular


Tomo emprestado para o título deste post o nome de um dos álbuns da cantora Marisa Monte. A expressão “infinito particular” me desafia a refletir sobre a imensidão que existe dentro de cada um de nós. Cada ser humano abriga, dentro de si, um sem número de histórias, de emoções, de sentimentos e pensamentos impossíveis de serem decifrados e/ou compreendidos em sua plenitude. Dentro de cada Pedro, de cada Antônio, de cada Suzana existe um universo pessoal, um espaço que nenhum explorador jamais conseguirá percorrer totalmente.

Lembro-me de uma frase do pastor Fabrício Cunha, da Comunidade Batista Vida Nova: “por trás de cada sorriso existe uma história”. Arrisco-me em expandir este conceito e dizer que existem milhares de histórias por trás de cada rosto. E não é dado a todos o privilégio de conhecê-las, de entendê-las ou de participar delas. Cabe a nós, na maioria das situações, apenas saber que existem e respeitar sua memória.

Pensando neste universo que existe dentro de mim e você, acho que finalmente consegui entender as palavras de Jesus Cristo quando este disse “não julguem para que não sejam julgados”. Apontar o dedo indicador para o próximo em atitude acusatória e/ou em juízo é atividade mais corriqueira do que se pode pensar. Julgamos as pessoas ao nosso redor o tempo todo. Nossa, que vestido horroroso a fulana está usando. Mas esse seu tio não vale nada mesmo. De onde beltrano tirou dinheiro para comprar esse carro novo? Que banda ruim, ninguém toca nada, como podem fazer tantos shows? Cuidado com essa garota, ela mora naquele bairro violento, deve ter envolvimento com alguma coisa errada. Vamos disparando a metralhadora para todos os lados, às vezes até sem perceber, ignorando completamente que em cada alvo existe não apenas um rosto, mas um infinito particular que transformou a pessoa no que ela de fato é.

Dentro de cada um existe um universo inexplorado
 Identifico-me tremendamente com a célebre frase de Pessoa que descreve tão bem o universo paralelo que existe dentro de cada um: “tenho em mim todos os sonhos do mundo”. Cabem em mim todos os sonhos do mundo. E se cabem em mim, cabem também no outro. E se cabem os sonhos, cabem os sentimentos, as decepções, as histórias. Como poderia eu apontar meu dedo e chamar de vagabundo ou rebelde o jovem que foge de casa? E se ele sofria ou presenciava algum tipo de violência e simplesmente decidiu que não poderia aguentar mais aquilo? Poderia citar diversos outros exemplos, mas deixo isto para você, leitor.

Perceber o infinito particular que existe dentro de cada um me faz entender que julgar o outro, mais do que errado, é precipitado e fútil. Pode ser um bom primeiro passo para uma convivência mais harmoniosa com aqueles ao meu redor – e pode ser um grande primeiro passo para a construção de relacionamentos sem pré-julgamentos, relacionamentos livres de conceitos pré-estabelecidos, relacionamentos saudáveis.

3 comentários:

  1. Nossa!Edu, que texto excelente!
    Muitas vezes agimos dessa forma, tendo um pré-conceito sobre alguma pessoa ou alguma coisa, sem ao menos conhecê-la.
    Quem somos para ter conceitos pré-estabelecidos de pessoas que tem um "universo inexplorado" por trás de um olhar, um sorriso ou uma lágrima?

    Parabéns, Edu. Excelente texto!

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  2. Já que o assunto é julgar, que conselho você pode dar a uma pessoa que se tornou um peregrino por ai pra igreja. Eu acredito na graça e em Jesus, mas a maioria das vezes a igreja me afasta dela mesma. O que deveria ser a força de atração e demonstração de Deus pra mim serve como o contrário (as vezes). Eu comecei isso com a pequena frase “já que o assunto é julgar” porque eu vi dezenas de pessoas saindo da igreja acusando os membros de os “julgarem”, e eu só fui entender exatamente quando eu fui um dos que fui que saiu.
    Não preciso citar exemplos, todos sabemos ou conhecemos alguém que passou por isso, a questão é: como mostrar graça a um pródigo que parece desviado,mas na verdade é só alguem que fugiu de casa, e vai voltar. Eu a amo, e ao mesmo tempo não a suporto... apesar de ser a igreja também. Como amar os que estão dentro da igreja? E como amar os pródigos que estão sendo massacrados por teorias de pastores e líderes de belos ternos, que só querem dinheiro e poder ou por esses super crentes que vivem dentro de uma bolha evangélica e tendem a machucar mais do que aqueles que já esperamos essa atitude? Os pródigos que foram separados por algum pecado e principalmente, como fazer a diferença?

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    1. A resposta é simples e complexa ao mesmo tempo. Não julgar envolve não se achar melhor que o outro. Esse é um primeiro passo. O mais importante é só amar, sem pré-condições ou esperando algo em troca. Infelizmente, a média das pessoas evangélicas é altamente intolerante e acusatória, apontando o dedo para o outro na esperança de que não olhem para o erro de quem acusa. Mas estes, que Deus me perdoe por fazer juízo, não acredito que tenham tido um encontro verdadeiro com Jesus. Aqueles que se permitem ser instrumento de Deus não têm dificuldade em amar o próximo, apesar do próximo.

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